Entrevista com o fotografo Marcio Sheeny

Márcio Sheeny nasceu no Rio de Janeiro, Brasil, mas fez a sua formação em fotografia em Nova Iorque nos E.U.A. Acha que para se ser bom fotógrafo é preciso ter um olhar apurado e sensível, saber sair do comum e transformar o vulgar em extraordinário. Extraordinário é também o que se pode dizer do trabalho fotográfico que Márcio Sheeny tem desenvolvido na área dos casamentos. Aconselha quem quiser começar a trabalhar na fotografia a criar um estilo fotográfico próprio e a ter humildade de continuar um aprendiz aprendendo sempre, pois só assim poderá continuar a evoluir. O FOTOGRAFIATOTAL dá-lhe a conhecer um pouco de Márcio Sheeny e alguns dos seus fantásticos trabalhos.

Onde nasceu, vive e trabalha actualmente?
Nasci em Niterói, Rio de Janeiro, estudei fotografia em Nova York, onde eu iniciei a minha carreira profissional, mas em 2006, resolvi voltar definitivamente ao Brasil. O meu estúdio fica em Niterói, Rio de Janeiro, mas faço trabalhos em todo o Brasil e no mundo inteiro, como Destination Wedding e Destination Trash the Dress…
Quando teve o primeiro contacto com a fotografia?
A fotografia é uma paixão de toda a vida, sempre amei fotos e admirei cameras, desde sempre, elas mexeram comigo, mas demorei 4 décadas, para compreender isso…
Desde quando e onde começou a sua carreira na fotografia?
Eu fui estudar fotografia em 2003, no ICP – International Center of Photography e NYIP – New York Institute of Photography, quando me mudei, de Miami para Nova York, apenas para estudar e iniciei a minha carreira profissional em 2004, em Nova York, onde trabalhei 3 anos.

Em que momento e porque decidiu tornar-se fotografo profissional?
A minha história é muito estranha, até meio sobrenatural…
Eu sempre vivi uma vida confortável e tive uma ótima educação, mas aos 30 anos, mas com a morte dos meus pais em 1993, além de outros fatores, fui decaindo profissionalmente e financeiramente, até que em 2002, quando eu tinha 39 anos de idade, eu me mudei para os E.U.A., porque tinha perdido tudo no Brasil e queria recomeçar a minha vida do zero, num outro país que eu já conhecia.
Deixei a minha esposa, de apenas de 19 anos, sozinha na nossa casa no Rio de Janeiro, com a promessa de buscá-la assim que me arrumasse lá e fui…
Trabalhei em muitos sub empregos, como todo imigrante, até, 7 meses depois, conseguir dinheiro para buscar a Fernanda (minha esposa), no Brasil, para vivermos juntos na Flórida. Passado alguns meses, nós já estávamos com a vida organizada, quando num dia, em Agosto de 2003, quando eu estava num dia de folga, eu recebi uma correspondência errada, por engano, sobre um curso de fotografia em Nova York, e tive um pressentimento muito forte, lendo aquela propaganda, que mexeu muito comigo, mas eu tinha 40 anos, achava que era velho demais para estudar e iniciar uma nova carreira profissional. Nessa tarde, eu saí para cortar o cabelo pensando nisso e ao chegar ao salão, abri uma revista qualquer, exatamente numa matéria sobre uma cineasta alemã, que tinha falecido aos 99 anos de idade e tinha deixado uma obra memorável, com um detalhe importante, tinha começado a estudar cinema, aos 70 anos de idade.
Fiquei muito impressionado e fui dormir a pensar nisso. Ao chegar ao meu trabalho, no dia seguinte, descobri que tinha sido demitido, sem nenhum motivo aparente. Eu não tinha mais dúvidas, eu tinha que estudar fotografia. Cheguei a casa, falando para Fernanda que nós íamos nos mudar para Nova York, para eu estudar fotografia e que eu iria ser um fotógrafo profissional, ela achou que era uma brincadeira, mas depois me apoiou e uma semana depois, estávamos nos mudando para New York. Estudei e me dediquei demais, para aprender a fotografia na sua essência e em 9 anos trabalhando como fotografo profissional, eu conquistei reconhecimento na minha área e um património maior que em toda a minha vida passada, apenas da fotografia, chega a ser surreal tudo isso e não tem um dia, que eu não agradeça a Deus, pelos “sinais” que eu recebi…

Em que área da fotografia se sente mais à vontade ou gosta mais de trabalhar?
Já trabalhei bastante com books e ensaios sensuais em estúdio, mas atualmente só faço Casamentos, Destination Trash the Dress e ensaios externos, mas com certeza, o que eu mais amo fazer e onde eu me sinto muito à vontade, é fotografando noivas e casamentos.
O que considera mais importante para se ser um bom fotografo?
Ter comprometimento com o seu cliente, ter atitudes profissionais e ter um olhar apurado e sensível… Saber ver uma cena sob uma ótica diferenciada, e saber sair do comum, transformando o vulgar em extraordinário.
Onde vai buscar a inspiração necessária para criar o seu trabalho?
Eu observo o local onde eu farei as fotos, por alguns minutos sozinho, antes de começar a fotografar, ando pelo o local e observo atentamente, criando uma imagem tridimensional do local e o visualizo sob diferentes perspectivas, pensando no que eu poderia fazer de diferente para criar imagens de impacto visual.

Qual o seu género de fotografia preferido?
Fotografar noivas, seja num casamento ou num Destination Trash the Dress… Mas tenho um prazer enorme em fotografar ensaios sensuais e nus artísticos, de mulheres, onde eu tenho liberdade para criar personagens diferentes nelas, criando uma dualidade, de pureza, com uma sensualidade ingénua…
Que tipo de preparação você faz antes de fotografar?
Eu confiro todo o meu equipamento e fico alguns minutos sozinho antes de sair de casa olhando fotos que me inspiram no iPad.
Como é a sua equipa de colaboradores habituais?
A minha esposa (Fernanda Sheeny), sempre viaja e trabalha comigo, ela é operadora de video, assistente e maquilhadora. Nos casamentos, eu sempre fotografo sozinho, não uso segundo fotografo, mas tenho 2 assistentes treinados e 3 operadores de video (eu também filmo os casamentos, fazendo a direção de cena e a direção de fotografia dos casamentos, enquanto eu fotografo).

Que equipamentos fotográficos usa com mais regularidade?
Meu equipamento básico é uma Nikon D4 com uma Nikkor 70-200mm f2.8 VR2 e uma Nikon D3S com uma Nikkor Fish Eye 16mm f2.8 ou uma Nikkor 17-35mm f2.8. Também uso bastante, as lentes Nikkor 85mm f1.4 e Nikkor Micro 105mm f2.8, em muitas situações. Uso sempre um Profoto AcuteB2 600airS, seja nos casamentos ou nos ensaios. Raramente uso Flash na camera, quando preciso, uso leds.
Quais os softwares que mais usa na edição do seu trabalho fotográfico?
Trabalho com o Aperture 3.0 para selecionar e preparar as fotos, para depois editar no Photoshop CS5, onde eu uso bastante os plugins da onOne software, Alien Skin e Nik Software.
Alguma vez esteve numa situação embaraçosa enquanto fotógrafo?
No primeiro casamento que eu fiz no Brasil, em 2006, eu convenci os noivos, a fazerem umas fotos juntos antes da cerimónia, como é tradição nos E.U.A., fomos para cima de umas pedras, numa praia no Rio de Janeiro, montei umas luzes de estúdio com softbox, para uma iluminação perfeita e quando fui fazer as fotos, vi que tinha esquecido o plug que conectava todas as luzes a camera. Meu primeiro casamento no Brasil, os noivos nervosos para irem para a cerimonia, no alto de umas pedras, numa praia isolada, calor de verão no Rio, tudo montado, 2 assistentes me olhando, sem saber o que fazer e faltando o plug que ligava tudo, ou seja, eu quase morri de vergonha… Mas como eu tinha vários speedlights comigo, consegui improvisar e fazer as fotos, utilizando os flashes da Nikon, por infra-vermelho e não usando os flash de estudio por radio. Depois disso, até hoje, só saímos para fazer fotos, depois de conferir a lista de equipamentos, que precisaremos naquele ensaio.

Que projectos tem para o futuro da sua carreira?
A minha carreira sempre foi planeada a médio e longo prazo, e tenho conseguindo alcançar as minhas metas ano a ano, até hoje… Em 2013 eu consegui diminuir os meus casamentos pela metade (aumentando o seu valor), para ter tempo de me dedicar mais a novos projetos, como poder viajar com os noivos durante a lua de mel, para fazer o Destination Trash the Dress e me dedicar a ministrar workshops e ministrar palestras em congressos (como o Congresso Photoshow, de Goiânia no mês passado). Em 2014, pretendo continuar com um máximo de 24 casamentos por ano e investir em projetos de fazer Workshops Nacionais e Internacionais, durante os Destination Trash the Dress pelo mundo, como o que eu farei em Amsterdão, nos dias 25, 26 e 27 de Setembro de 2013 (veja mais informações aqui) . Em 2015, gostaria de criar um projeto de ajuda social, através da fotografia, que pudesse dar cidadania, arte e uma profissão, para pessoas sem esperança, estarei à disposição para ajudar no que eu puder, num bom projeto, seja sozinho ou com parcerias, para poder dar um pouco às pessoas do muito que a vida me deu, quando eu mais precisei.
Quais os fotógrafos actuais ou antigos que mais admira?
Os dois fotógrafos que foram a minha inspiração e responsáveis pelo meu estilo de fotografar, foram: Parker J. Pfister e Julia Woods.
Quais os 5 websites de fotografia que mais frequenta ou recomenda?
Eu não costumo ir muito a websites e blogs específicos, eu vejo sobretudo quando recebo e-mails de assuntos interessantes. Mas os sites que eu estou sempre clicando, quando recebo e-mails, são os seguintes: www.demilked.com, www.fearlessphotographers.com, www.iphotoeditora.com.br/blog, www.wedding.photos.uol.com.br e www.pinterest.com

Costuma também fotografar através de smartphone, (iphone ou android)? Se sim quais as aplicações que mais usa?
Eu fotografo com iPhone, quando estou a escolher locais para fazer as fotos, para eu organizar o meu roteiro, principalmente, nos Destination Trash the Dress. Mas o iPhone é minha camera oficial, nas minhas viagens e eventos que sou convidado, nesses casos, usando o Instagram.
Habitualmente participa em exposições ou concursos/prémios? Se sim quais já participou?
Eu participo apenas do Fearless, (www.fearlessphotographers.com), entrei há menos de um ano, e já obtive um Fearless Award, um importante prémio internacional, super desejado pelos fotógrafos de casamento pelo mundo.

Como vê a fotografia actualmente e no futuro?
A fotografia está num boom, herança do digital, onde todos tem uma camera e acham que viraram fotógrafos. Nessa leva, apesar de estarem a aparecer muitos fotógrafos ruins, estão aparecendo muitos novos fotógrafos de talento, por causa da oportunidade que não tinham antes. Eu acredito que no futuro, a facilidade de se ter uma boa camera moderna num custo baixo e a facilidade de se fazer uma foto, será cada vez mais simples, mas um planejamento, com um bom olhar por trás da foto, isso não mudará nunca, ainda continuará havendo fotos ruins e fotos boas, como nos tempos do filme.
Que conselhos daria a quem pensa seguir a profissão de fotografo?
Primeiro estude bastante, entenda o que faz uma boa foto, seja qual for a área da fotografia que você queira atuar, conheça as técnicas, estude os fotógrafos que você admira, observe o que as fotos deles têm de diferente, entenda a luz pelas sombras, pratique bastante até ter resultados que se orgulhe. Quando se considerar um fotógrafo capaz, com conhecimento e apto a cobrar pelo seu trabalho, defina qual será o seu estilo fotografico e seja fiel a ele, a ponto de o reconhecerem pelas suas fotos. Tenha a humildade de continuar um aprendiz, aprendendo sempre, com quem pode te acrescentar alguma coisa nova, assim você vai continuar evoluindo.